quinta-feira, 21 de outubro de 2010

QUIMIO SHORT TAKES

Ela precisou fazer quimioterapia.
Depois do choque inicial e da impossibilidade de escolha, limpou a mente de pensamentos ruins e resolveu enfrentar o desafio.
Fez a primeira sessão. Sentiu-se mal por um ou dois dias e imediatamente retomou suas atividades esportivas. Saiu de casa, organizou uma recepção para a família, foi ao supermercado, enfim, sua vida voltou ao normal e num ritmo alucinante e acelerado, pois nada iria derrubá-la.
Voltou ao médico em 3 semanas apresentando ótimos níveis nos exames de rotina e dizendo que quimio nenhuma a derrubaria. O médico ouviu o quão bem ela estava encarando o desafio e ela notou uma pequena ruga, talvez de preocupação, em sua testa enquanto ele dizia "está tudo normal? hummm..." e fez então umas anotações em um papel entregando-lhe a seguir a prescrição para a segunda aplicação.
Três semanas após a 2a dose do pesado fármaco ela retorna para a avaliação médica. Ainda com uma ótima aparência! nem a queda de cabelos a derrubou. Ela comenta diante do estupefato médico que dessa vez havia demorado um pouco mais para retomar sua atividades. Ficou cerca de 5 dias acamada sentindo-se mal, mas depois deste período de reclusão retomou imediatamente suas atividades esportivas, praticando-as durante 2 a 3 horas diariamente. Dessa vez o médico apenas olhou-a franzindo ainda mais o cenho e rabiscou com fúria o seu pedaço de papel como que dizendo "ah é?!! então toma isso!!!", entregando-lhe a seguir a prescrição para a terceira dose. Ela só podia estar enganada, é claro que o médico estava apenas preocupado com seu bem estar...
Novamente 3 semanas se passaram e ela volta para a 4a dose. Dessa vez ela estava um pouco abatida. Revelou que ficou quase 10 dias sentindo-se um lixo e falou continuamente por quase 15 minutos sobre como se sentia por não mais conseguir praticar suas atividades esportivas. Ela estava arrasada, mas ainda inteira. Enquanto falava não pôde deixar de perceber o médico fazendo anotações. Desta vez ele estava leve, anotando com calma e escrita suave a sua próxima prescrição, e foi então que ela viu: no canto de sua boca, quase imperceptível um esboço de sorriso! Por via das dúvidas ela achou melhor não comentar sobre o pequeno mas já perceptível crescimento de seus cabelos. Afinal de contas o médico estava (e isso ela pôde afirmar, embora não tenha bem certeza dos reais motivos...): FELIZ!

4 comentários:

  1. Managgia Rose!!
    você me lembrou o pobre coitado do Winston da trama 1984 do Gerge Orwell, quando finalmente conseguiu entender o enigmatico sorriso do Grande Irmão... :-S o real sentido da palavra paciente não poderia ser mais verdadeiro...
    Você de alter ego escrevendo em terceira pessoa é o fino da bossa...tenho que concordar que a fama já deveria ter batido à nossa porta....:-)

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  2. com certeza melhorou, mas eu me referia ao tom dramático da narrativa...ela mandou bem...
    mocinhas...tem texto novo no divagando...agradecemos o prestígio :-)

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  3. Que macabro...De médico e monstro todo mundo tem um pouco...

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