quarta-feira, 1 de junho de 2011

Ambiente & Leitura

Woody Allen sempre nos brinda com seus ambientes habitados, já disseram cinéfilos em consoante com a crítica. Não faz diferença se o cenário é luxuoso, requintado ou modesto. Casa ou apartamento, de imediato se percebe que ali há vida. Na mesa do escritório, no quarto, na sala... um blazer displicentemente posto sobre a cadeira, livros elegantemente desarrumados no living, móveis discretamente envelhecidos .
A Casa Cor, não. Ambientes assépticos, lençóis impecavelmente estendidos, cristais brilhando, nenhuma bagunça aqui ou acolá. Muito raramente um closet sem portas nos armários, para ilustrar o loft do (a) descolado (a). Nenhum livro fora da estante, aliás, para que livro, se não para decoração? Quando muito, para preencher estantes, já que, afinal, algum arquiteto maníaco desenhou tais excentricidades. Estantes repletas, um horror.
Ainda que seja “a” mostra de arquitetura e decoração no estado da arte, a idéia, que tomarei a liberdade de chamar de moda conceitual, é um tanto bizarra. Marcada pela competição acirrada, fogueira de vaidades, recepcionistas nada convincentes aliados a seus sorrisos de comercial de dentifrício, a exposição segue, ano após ano, (mal) imitada por algumas produções locais, nos mais distintos estados e municípios, sem, é claro, a mesma sofisticação, mas com a mesma superficialidade.
Excelência de trabalhos à parte, com seu mérito indiscutível, registro a presença de muitos quadros, muitos espelhos (recostados às paredes, lógico, é a tendência atual), muitas almofadas, muito azul e dourado, mas livros, nada que destoe do ambiente. Talvez estes amontoados de papel encadernado, bastante anti-ecológicos e antiquados nestes nossos dias não inspirem glamour, é, deve ser isso.

3 comentários:

  1. Já faz algum tempo que o glamour da arquitetura sumiu da minha vida. Arquitetos são inventivos mas muito pouco práticos. Experimenta tentar limpar um ambiente casa cor! Janelas estupidamente altas aliadas à imensas quantidades de tecidos e cantos "inalcançáveis".
    Fora isso arquitetos adoram se fazer passar por engenheiros. Constroem e reformam ambientes com maestria mas sem a mínima preocupação com impermeabilizações ou adequação de encanamentos, ralos e energia elétrica. O ambiente fica lindo e depois de um tempo nos sentimos como se estivéssemos em Atlântida após a submersão.
    Nesse ponto sou do partido do Niemeyer que não queria nem saber da execução do processo. Só desenhava. Tudo bem que ficava horrível, mas ele só desenhava!

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  2. Imagina uma enxurrada na casa cor, vai dar choque pra tudo que é lado, eu que não entro lá em dia de chuva!!!

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  3. Já que se fala em arquitetura conceitual os profissionais não deveriam se esquecer do principal conceito...os ambientes são para pessoas.. aparentemente o pessoal deve pular esta aula na faculdade
    Em compensação nessa onda de seguir tendências (ou copiar fórmulas)o fetiche por espelhos e lâmpadas halógenas em arquitetura é parecido com o do purê de mandioquinha em gastronomia...não há um maldito chefe saído dessas faculdades de gastronomia que resista à tentação de criar um menu com essa gororoba que cheira a pum...o ruim da história é que para ambos os casos existe um grande grupo de admiradores....que dureza...

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