quinta-feira, 28 de julho de 2011

Gente feliz e descomplicada

Gente feliz é assim.
Ao encerrar minhas atividades laborais nesta quinta-feira, tomei uma via pouco usual. Tinha sido um dia pouco comum. Enquanto dirigia, tráfego não muito intenso, escutava calmamente uma canção de Melody Gardot quando uma letra bem conhecida da música popular brasileira, literalmente em alto e bom som, fez uma curva de noventa graus em meus devaneios.
Que ninguém me pergunte “qual era a música”. Alguma coisa agradável, sem muito a ver com o boteco de onde ela eclodia. Não era música ao vivo, não. Alguns homens na calçada bebendo cerveja Skol. Desde que estivesse gelada, tudo estaria perfeito. Isso é que é happy hour.
Girei novamente minha atenção, agora para alguns amigos bem queridos, mas que só tomam vinhos de safras nobilíssimas em taças de cristal que não façam feio em qualquer recepção do Itamaraty.
E aqueles homens estavam comendo alguma coisa. Olhando com mais atenção, o farol já por abrir, vi mulheres também, várias pessoas em uma mesa na parte interna. Certamente não comiam foie gras (eu também não como, pelos princípios ecológicos e pelo paladar). Torresmo, batatinhas, bacon, frango frito? Não importa. Todo mundo alegre, sem pensar muito no chef, na qualidade superior do ingrediente, na acidez do azeite (haveria azeite de oliva por lá!?).
Farol verde, baixei o vidro, sorvi a música (perdão, Melody), ouvi algumas boas risadas de brinde e arranquei. Cheguei à casa, marido no trabalho (céus, por que não fui à academia?)...
Gente descomplicada vive melhor.

4 comentários:

  1. Há muita coisa consumida por gente simples que eu como e bebo com muito gosto...nas grandes cidades faz falta a boa qualidade dos petiscos,belisquetes e acepipes que se consomem nos bons butecos das cidades de interior.
    Em meio ao mundo que a gente vive a maioria das pessoas não dispõem de muitos recursos e simplesmente vivem e desfrutam do que a vida lhes proporciona.Para essas pessoas é mais importante a fartura.
    Por outro lado pessoas mais abastadas passam um bocado de tempo qualificando e tentando descobrir a arte de bem viver ou simular o bem viver por menos espontâneo que possa parecer.É uma forma de aparentar sofisticação criando hábitos de consumo diferentes, que soem como finos ou exóticos.A velha tática de marketing que aponta que você é aquilo que consome e se não consome você não é.
    Se vivêssemos na Toscana seria um gesto simples beber um bom vinho,molhar o pão num bom azeite extra virgem,comer os queijos e pastas al denti com o melhor molho de tomate do mundo e de quebra poder comer as frutas e nos lambuzarmos com o mel mais doce e saboroso que se produz na face da terra...esses são hábitos de camponeses...gente decomplicada vive melhor na Italia, onde diga-se de passagem também se produz boa música.
    Alguns hábitos de consumo no Brasil são muito recentes...aqui ainda tem mulher que desfila na piscina do hotel da Ilha de Comandatuba de biquini, maqueada,de salto, rolex no pulso e carregando a inseparável Louis Vitton...um dia as pessoas ainda vão se cansar disso..

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  2. Será que na Toscana, onde os camponeses se tratam como os granfinos daqui, o torresminho e a polenta frita são considerados pratos finos?
    Me parece que quanto menos soubermos, menos infelizes seremos.
    Será?

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  3. Oxalá as pessoas possam se cansar. Viveremos, quem sabe, como o que somos. Toscana, o pão mergulhado no azeite. Aqui soaria como um sinal de refinamento.
    Melhor ser do que saber...

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  4. Sweet Rosie,
    A polenta na Italia não é frita mas é comida de camponês... alíás a polenta à la campesina é feita com toucinho..Como você sabe, meu cunhado é carcamano legítimo.Embora seja vegetariano e do norte da Italia,tanto ele como muitos italianos que eu conheço, ao chegarem aqui saem em busca dos sabores brasileiros nas coisas mais simples, do mesmo modo que fazem em seu país de origem, o que não quer dizer que gostem somente do que é simples e frugal.Isso é um traço cultural milenar.
    Na época em que minha irmã morou na Itália, felicidade para eles era quando algum de nós ia para lá e levava feijão, farinha de mandioca, palmitos e outras coisas simples do nosso cardápio trivial...aliás quando a gente ia para lá eles faziam uma feijoada à moda deles e chamavam os amigos para experimentar as tais iguarias, ou seja,desfrute ao pé da letra.
    O que eu quis dizer é que independentemente de qual seja o lugar ou o grau de refino do que se consome, existe uma grande diferença entre ter prazer e buscar reconhecimento através de uma identidade superficial comprada à peso de ouro.
    É muito fácil perceber essas redundâncias. Macacos imitam o que invejam ou admiram ... diariamente surgem coisas mais sofisticadas, mas continuamos colocando nossa atenção nos outros em vez de colocarmos em nós mesmos.
    A regra obviamente não é hermética, mas as exceções realmente desfrutam e não fazem alarde.
    A beleza de tudo está em se permitir sentir prazer no que lhe dá prazer, seja lá do que for...o que mata são esses formatos e julgamentos que muitas vezes beiram o ridículo.
    Eu gosto do pensamento do velho filósofo Linus Van Pelt nas tiras do Snoopy.. "Felicidade é um cobertor quentinho".

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