sexta-feira, 27 de julho de 2012

O LIVRE ARBÍTRIO E O CARRINHO DE PIPOCA

Alguém por acaso acredita em livre arbítrio?
Pois é... já faz um tempo que penso sobre isso. 
E sabe o que eu acho? Que o livre arbítrio não existe. Mesmo.
Claro que com pequenas ressalvas... acredito que a gente consegue mudar algumas coisas escolhendo direções, mas o que tem de ser será, impiedosamente e sem sombras de dúvidas.
Hoje por exemplo ouvi uma propaganda no rádio sobre um espetáculo de balé, de "tirar o fôlego". Deus me livre de assistir uma coisa dessas, alguém já ficou sem ar pra ver como é terrível? Essa é uma figura de expressão tão infeliz, mas tão infeliz, que me fez novamente divagar por este tema, o qual nem gosto muito de repensar. O livre arbítrio.
Eu comecei tanto a achar que as coisas tem a sua hora para acontecer, que invariavelmente me pego olhando para os lados com um complexo persecutório, achando que se for aquela a minha hora, vai aparecer um carro, um disco voador ou um animal não identificado correndo loucamente pela rua a qual atravesso, sem que eu tenha a mínima chance de escapar. 
Mas eu acho isso mesmo. Quantas vezes não atendi gente no pronto socorro, atropelados por exemplo, que não faziam a mínima idéia de onde ou como ou quando havia surgido o veículo que os acertou. 
Uma vez eu mesma fui atropelada por um carrinho de pipoca que - juro! - só pode ter caído do céu. E olha que carrinho de pipoca eu identifico a quilômetros de distância! Esse aí, por um acaso do destino eu não só não enxerguei, como me estabaquei de encontro, espalhando pipoca para todos os lados. E vou te falar mais: o pipoqueiro tinha uma cara bem estranha. Pode ser que ele foi enviado por alguma entidade para se chocar comigo... vai saber. E tem mais uma coisa ainda: eu fui e me choquei com o tal carrinho. Uns 10 minutos depois, quando voltei pelo mesmo caminho, o carrinho de pipoca havia sumido como se nunca tivesse existido por ali. Muito estranho.
A primeira vez em que pensei sobre isso foi quando eu estava no 5o. ano da faculdade de medicina. Eu passava por um estágio na Clínica Médica e me deparei com pacientes e suas doenças em estágios diversos. Jovens, velhos, muito e pouco doentes. E uma coisa que sempre me chamava atenção era o fato de que as pessoas melhoravam e pioravam muitas vezes independentemente do tratamento proposto. A gente estudava, passava visita nos pacientes, revirava as doenças de cima a baixo, mas os que tinham de morrer por exemplo, morriam independentemente de nós. Lembro de um episódio com um paciente o qual um colega de turma era responsável. O paciente em questão sofria de uma doença infecciosa que na época era quase que uma sentença de morte. Pois bem, depois de muitos baixos e sofrimentos, conseguiram por fim estabilizar o doente, um cara jovem, muito humilde, guerreiro que lutava com braveza para sobreviver. Todos estavam muito felizes com a melhora clínica do garoto que já seguia com a alta programada para aquele dia fatídico em que finalmente se engasgou com um fio de macarrão. Spaghetti! Porra, o cara tinha uma doença incurável! E quando a equipe médica conseguiu o impossível, ele se engasgou com o macarrão do seu derradeiro almoço. E morreu! 
Nesse meio tempo eu cuidava de uma senhorinha diabética, com quadro clínico e idade para pensarmos que ela não sairia dessa, e que um belo dia acordou e estava boa. Não curada, mas boa para sair do hospital gritando que não foi dessa vez. 
Incrível mesmo. Não adianta a gente agir ou escolher o caminho. As nossas datas estão marcadas. O que tiver de ser vai ser. Se a gente escolher um tratamento e se livrar de uma doença ou se escolhermos uma estrada e evitarmos um acidente, eu sei - é mórbido!, mas se a gente escolher e mantiver a vida, isso só terá acontecido porque realmente ainda não chegou a hora. Tudo está programado!
O gene que causa uma doença específica tem a sua hora de funcionar, o aneurisma tem a hora certa para explodir, e as pessoas tem as suas horas boas e ruins pré-determinadas desde o momento em que nascem. Aqui eu tô logicamente abordando só as ruins porque dá mais ibope né!
Por isso é que ando na rua e olho para um lado e para o outro, e também para cima por via das dúvidas. As coisas se materializam na nossa frente se tiverem de acontecer. Aquela história de pronto socorro em que o cara fala "nem sei de onde veio o carro que me atropelou", é a pura realidade. Veio do nada, se materializou, apareceu! Estava ali no momento programado.
Igualzinho ao carrinho de pipoca.

Um comentário:

  1. Puxa, Andrea... pode parecer fatalismo, mas na mesma Santa Casa aprendi uma coisa...você certamente se lembra daqueles politraumatizados que chegavam estáveis? Quando um deles dizia que ia morrer, todos nós já sabíamos o destino. E aquele paciente que melhora para morrer em um dia ou dois? Este texto é uma reflexão e tanto.

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