Alguém por acaso acredita em livre arbítrio?
Pois é... já faz um tempo que penso sobre isso.
E sabe o que eu acho? Que o livre arbítrio não existe. Mesmo.
Claro que com pequenas ressalvas... acredito que a gente consegue mudar algumas coisas escolhendo direções, mas o que tem de ser será, impiedosamente e sem sombras de dúvidas.
Hoje por exemplo ouvi uma propaganda no rádio sobre um espetáculo de balé, de "tirar o fôlego". Deus me livre de assistir uma coisa dessas, alguém já ficou sem ar pra ver como é terrível? Essa é uma figura de expressão tão infeliz, mas tão infeliz, que me fez novamente divagar por este tema, o qual nem gosto muito de repensar. O livre arbítrio.
Eu comecei tanto a achar que as coisas tem a sua hora para acontecer, que invariavelmente me pego olhando para os lados com um complexo persecutório, achando que se for aquela a minha hora, vai aparecer um carro, um disco voador ou um animal não identificado correndo loucamente pela rua a qual atravesso, sem que eu tenha a mínima chance de escapar.
Mas eu acho isso mesmo. Quantas vezes não atendi gente no pronto socorro, atropelados por exemplo, que não faziam a mínima idéia de onde ou como ou quando havia surgido o veículo que os acertou.
Uma vez eu mesma fui atropelada por um carrinho de pipoca que - juro! - só pode ter caído do céu. E olha que carrinho de pipoca eu identifico a quilômetros de distância! Esse aí, por um acaso do destino eu não só não enxerguei, como me estabaquei de encontro, espalhando pipoca para todos os lados. E vou te falar mais: o pipoqueiro tinha uma cara bem estranha. Pode ser que ele foi enviado por alguma entidade para se chocar comigo... vai saber. E tem mais uma coisa ainda: eu fui e me choquei com o tal carrinho. Uns 10 minutos depois, quando voltei pelo mesmo caminho, o carrinho de pipoca havia sumido como se nunca tivesse existido por ali. Muito estranho.
A primeira vez em que pensei sobre isso foi quando eu estava no 5o. ano da faculdade de medicina. Eu passava por um estágio na Clínica Médica e me deparei com pacientes e suas doenças em estágios diversos. Jovens, velhos, muito e pouco doentes. E uma coisa que sempre me chamava atenção era o fato de que as pessoas melhoravam e pioravam muitas vezes independentemente do tratamento proposto. A gente estudava, passava visita nos pacientes, revirava as doenças de cima a baixo, mas os que tinham de morrer por exemplo, morriam independentemente de nós. Lembro de um episódio com um paciente o qual um colega de turma era responsável. O paciente em questão sofria de uma doença infecciosa que na época era quase que uma sentença de morte. Pois bem, depois de muitos baixos e sofrimentos, conseguiram por fim estabilizar o doente, um cara jovem, muito humilde, guerreiro que lutava com braveza para sobreviver. Todos estavam muito felizes com a melhora clínica do garoto que já seguia com a alta programada para aquele dia fatídico em que finalmente se engasgou com um fio de macarrão. Spaghetti! Porra, o cara tinha uma doença incurável! E quando a equipe médica conseguiu o impossível, ele se engasgou com o macarrão do seu derradeiro almoço. E morreu!
Nesse meio tempo eu cuidava de uma senhorinha diabética, com quadro clínico e idade para pensarmos que ela não sairia dessa, e que um belo dia acordou e estava boa. Não curada, mas boa para sair do hospital gritando que não foi dessa vez.
Nesse meio tempo eu cuidava de uma senhorinha diabética, com quadro clínico e idade para pensarmos que ela não sairia dessa, e que um belo dia acordou e estava boa. Não curada, mas boa para sair do hospital gritando que não foi dessa vez.
Incrível mesmo. Não adianta a gente agir ou escolher o caminho. As nossas datas estão marcadas. O que tiver de ser vai ser. Se a gente escolher um tratamento e se livrar de uma doença ou se escolhermos uma estrada e evitarmos um acidente, eu sei - é mórbido!, mas se a gente escolher e mantiver a vida, isso só terá acontecido porque realmente ainda não chegou a hora. Tudo está programado!
O gene que causa uma doença específica tem a sua hora de funcionar, o aneurisma tem a hora certa para explodir, e as pessoas tem as suas horas boas e ruins pré-determinadas desde o momento em que nascem. Aqui eu tô logicamente abordando só as ruins porque dá mais ibope né!
Por isso é que ando na rua e olho para um lado e para o outro, e também para cima por via das dúvidas. As coisas se materializam na nossa frente se tiverem de acontecer. Aquela história de pronto socorro em que o cara fala "nem sei de onde veio o carro que me atropelou", é a pura realidade. Veio do nada, se materializou, apareceu! Estava ali no momento programado.
Igualzinho ao carrinho de pipoca.
Puxa, Andrea... pode parecer fatalismo, mas na mesma Santa Casa aprendi uma coisa...você certamente se lembra daqueles politraumatizados que chegavam estáveis? Quando um deles dizia que ia morrer, todos nós já sabíamos o destino. E aquele paciente que melhora para morrer em um dia ou dois? Este texto é uma reflexão e tanto.
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