quarta-feira, 29 de julho de 2009

Momentos de prazer.

"Morte aos maus!" - determinou aos gritos a rainha, quando chutaram-lhe a poltrona em um espetáculo público. Os guardas se amontoaram. Feito loucos, afoitos, saltaram uns sobre os outros para cumprir com honra e alegria a nobre sentença. O público é mal educado. Não se deve generalizar, trata-se da maioria. O problema é mundial. Certa vez, em Praga, no melhor teatro, lindo, fui muito aborrecida ao tentar assistir ao balé Cinderela. Conversas, movimentos, pessoas que não se importam com olhares feios, broncas, súplicas, pedidos carinhosos para que não fulminem raros e caros momentos de prazer. Já ouvi no lugar da Leni Andrade a cantoria alta e sem piedade de uma moça sentada atrás de mim. Não era nos momentos em que o público era convidado a participar e cantava junto. Era o show inteiro. No lugar da Leni. Quando olhei com tristeza a moça disse: "não se pode nem se divertir", e continuou cantando. Algumas ela não sabia, só fazia o ritmo (o ritmo dela), batendo na poltrona. Estragou o show. O filme "Os segredos de brokeback mountain" não me traz boas recordações. Não sei se é ruim ou se simplesmente tive uma deprimente sessão de cinema, da qual não quero nem lembrar. Uma senhora (não era adolescente) me chutou tanto que pedi com educação que ela parasse. Ouvi um berro: "É uma princesinha, não se pode nem encostar". As pessoas sentadas ao redor pediram silêncio ("chh, chh"). Senti vergonha pela exposição. Passei parte do filme sendo chutada e a outra parte com raiva, indignação. A nona sinfonia foi apresentada com entrada franca uma vez, no municipal de São Paulo. Fui. Conversas havia como se não fosse um teatro. Chutes, barulhos, aplausos no meio das músicas, comidas, bebidas, um inferno. Um aborrecimento. No filme "Jean Charles", cinema vazio, sentou-se na finha frente uma moça. Mandou tantas mensagens de celular, com uma luz tão forte, que precisei mudar de lugar. Mas às vezes não há lugares sobrando. É certo que há casas melhores. O circuito alrternativo de cinema apresenta uma seleção superior de filmes e um público mais bem comportado. Mas não é preciso uma dose muito grande de azar para ter péssimos momentos. Já foi chutado? Já teve a emoção roubada, o pensamento trazido à realidade na marra, boas sensações mortas a tiros, por pessoas espaçosas, folgadas, mal educadas, impiedosas? Já perdeu tempo e dinheiro em casas de espetáculo? Chame a rainha. Ou reclame para o papa. Sou favoravel à positivação das regras de educação e bom comportamento, mormente em cinemas, teatros, casas de espetáculo. A sanção poderia ser a pena de reclusão - a ser cumprida em regime fechado.

8 comentários:

  1. Querida Aretha,
    concordo plenamente! Eta povinho mal educado viu? E olha que esse tipo de educação não tem ligação com a fase financeira da familia.
    Digo fase pq ("quem foi la no alto já voltou")tudo passa...menos a educação...eu espero!
    Mas tem um episodio que acho que daria um ótimo texto, em sua mão claro:
    Aquele espetáculo da cantora que insistia em berrar uma ópera em que tive um dos ataques de riso mais barulhento de todos os tempos. Gostaria de saber o que fazer frente a uma situação como esta em q nós, educadamente, contra nossa própria vontade (de nos contermos), atrapalhamos os seres telespectadores, que talvez por falta de educação cultural, estão gostando...da CANTORA MÁ!

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  2. Querida Aretha,
    Depois da citação da fã participativa no show da Leni Andrade, fiquei com muito medo de ler o que havia ocorrido na sessão de Brokeback Mountain...
    Mas concordo plenamente que não temos mais o direito de diversão em paz. E vejo que este é um problema global!
    Me lembro porém de uma ocasião em Paris, onde fomos surpreendidos por um súbito acorde em tom menor protagonizado pelo órgão secular de uma igreja, em meio a uma apresentação da Flauta Mágica.
    A surpresa fazia parte da performance, o que não impediu que a ouvinte a minha frente pulasse vários metros acima de nossas cabeças com o susto, provocando ataques de risos no restante da educada platéia que obviamente, apesar do susto coletivo, não havia pulado.
    Portanto, diante de uma situação como esta, onde o involuntário ataque de riso ocrre, fora de nosso controle e em hora indesejada, pergunto: o que fazer?
    Obs: reitero meu incondicional apoio à rainha!

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  3. Os espetáculos muito ruins devem e merecem ser sacaneados. Ataques de riso são saudáveis e críticos. E se outra pessoa estiver gostando? Ela é uma porcaria, assim com os espetáculos ruins. E a diversidade de opiniões? Só quando não for tão ruim assim. Quem julga? Apenas os cultos. Quem dirá quem são os cultos? Nós. Isso: eu, vocês e quem tiver um mínimo de sensibilidade e inteligência. E a rainha.

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  4. O filme "Lendas da Paixão", aquele espetáculo de flamenco (vocês se lembram), artes e espetáculos dessa natureza têm o seu valor: provocam deliciosos ataques de riso. Inesquecíveis. Vale a pena sentar no chão geralmente sujo do cinema e do teatro para rir, como aconteceu conosco.

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  5. Fui ao Quebra-Nozes em dezembro do ano passado. Um senhor da fila de trás assobiou bem alto todas as músicas do Balé.

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  6. Acontece nos chamados clássicos populares...
    Daqui a pouco só nos sentiremos seguros em concertos de Shostakovsky.
    E olha que periga de algum chato instruído ainda querer assobiar um trechinho.

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  7. Às vezes a pessoa pode ser insegura, tem que mostrar que sabe. Pode ter algum outro problema associado à falta de educação.

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  8. E tipo assim, qd o cdesagradável está na sua turminha de colegas acompanhantes?
    Uma vez fui ao cinema com um cara que não parava de espirrar aqueles espirros romanescos jorrando virus mal
    cheirosos para todos os lados.
    Afundei na cadeira mas não tinha como me esconder da vergonha e do cheiro! Sim, espirro tem cheiro, e ruim, muito ruim...mas o cara era da minha turma...

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